(texto antigão, espero que gostem)
Antes que me peça desculpa ou venha me culpar, deixe-me dizer: todas aquelas bobagens que você disse ontem não estão mais aqui. Acho que meu cérebro as apagou pelo meu próprio bem. Mas isso não importa agora. Entre outras coisas, o motivo principal por eu ter te ligado é que preciso exorcizar nossos últimos demônios. Quero queimar coisas minhas que ficaram com você, em você; Destruir qualquer resquício desse longo inverno que passei ao seu lado. O que tenho a dizer, meu bem, é que você está fora.
Você se tornou um maldito vírus, inoculado no meu sangue, rastreando e destruindo o que ainda havia vivo dentro de mim. Mas eu descobri a cura. Ontem ele partiu das minhas veias tão rápido quanto o efeito que você me causa. Não sei se posso te chamar de descartável, pois te usei tão repetidas vezes que, sinceramente, acho que isso seria um tanto quanto indelicado. Você não é (e nunca foi) algo que se possa jogar fora a hora que quiser. Longe disso. Tenho de confessar que já cheguei ao cúmulo de tentar acreditar que você dependia de mim, que eu te protegia, e que o usuário não era eu. Mas hoje eu sei que nunca estive tão enganado. E precisei de pouco para entender isso.
Eu abusei do seu corpo, testei seus sentidos. Fiz de você a mais suja coisa que amei. E, agora que o amor se foi e só restou a podridão, me sinto leve e meu ódio parece estar me deixando pela primeira vez em anos. Posso até sentir o passado vazando pelos meus poros. Sabe Alessandro, só hoje descobri que não preciso me drogar para me sentir completo. Só hoje percebo que eu fugia da realidade por que não havia alguém para me segurar. Só havia você, que me espreitava, como um coveiro que espreita uma nova sepultura. Você me olhava com aqueles olhos cheios de vida, brilhantes como um sol de primavera, mas no fundo até você sabia que aquele brilho provinha das almas que você furtara de outros corpos carentes. Além de vírus, parasita.
Tive que disfarçar meus medos e meus anseios para tentar te parecer mais forte e isso acabou me tornando mais covarde do que eu realmente era de costume. E tudo isso é culpa sua. Você dizia que era para o meu bem, que eu iria melhorar e que um dia eu seria percebido. Idiota. Agora percebo que tudo não passava de encenação. Ou melhor: de necessidade de auto-afirmação. Quem sempre foi o fraco foi você, seu estúpido. Você nunca compreendeu o que eu tinha para dizer, por que seus ouvidos só eram capazes de ouvir sua própria voz. Você nunca soube quem eu realmente era. Bastava saber que eu cederia e tudo estava resolvido. Ninguém perguntava se estava bom assim, ou de outro jeito, porque só existia o seu jeito.
Está lembrando agora, querido?
Você nunca admitiu que eu tivesse uma boa idéia, ou uma opinião válida. Deus, como eu odiava quando você me jogava aquele olhar nojento de desdém. Era como se eu fosse escravo da sua intelectualidade e toda palavra que saísse da minha boca necessitasse de sua aprovação. E como eu me sentia pequeno... Como você pôde achar que podia fazer isso a alguém e depois sair ileso? Será que sua auto-estima elevada te cegava ao ponto de fazer você pensar que fosse blindado? O que te fez pensar que estava livre de vinganças?
Acho bom você começar a cogitá-las.
Agora que estou livre, e que você está ficando sozinho, espero que ainda haja tempo para redenção. Vou fazer a minha parte, tentando me tornar o homem que sempre quis ser: mais sonhador, prático e corajoso. E, quanto a você, se achar algum coitado que seja capaz de suportar o seu sarcasmo por tanto tempo, espero que faça bom proveito da sua própria destruição. Pode parecer que agora não há perigo, mas em breve haverá. Em breve você terá de medir suas palavras e calcular seus gestos. Andará constantemente em um campo minado, sem saber o que te reserva o próximo passo. Nada dura para sempre, e você será a prova viva disso. Alguma coisa chegará e te botará abaixo. Seja uma perda, uma humilhação, ou até mesmo a gravidade, algo te fará perceber que você não é perfeito. Pessoas perfeitas sempre são mais suscetíveis a quedas.
Agora vou embora, e não espere ouvir notícias minhas. Vou voltar para o início de tudo, quando eu ainda era sensível a estímulos; Vou reviver sentimentos perdidos, e que agora, mais do que nunca, planejo resgatar. Começarei mostrando que não sou burro, e que um ano inteiro de arquivos armazenados me fizeram saber direitinho quais são seus pontos fracos. Eu esperei... esperei pacientemente, e, como você verá, não perdi em nada por isso.
O seu maior erro foi pensar que eu nunca me rebelaria; que continuaria sendo o seu pet, seu escravo. Mas, olha só: você confiou tanto em si mesmo que me deu a senha do banco. “Você tem certeza, amor?”, disse eu. Talvez tenha sido naquele momento que tudo se reverteu. Por um instante pude sentir o cheiro dos meus maiores sonhos de criança; os sinos tocando num natal gelado, sem presente e sem árvore; a stratocaster preta e branca da TV; a viajem ao Brasil. Lembranças que nem mesmo eu sabia que tinha. Você acordou dentro de mim o monstro da ambição, e desde então eu preparei dias e noites um motivo para me livrar de você. Imagino a sua cara quando ouvir isso. Imagino o desespero invadindo o seu sangue, o ódio te sufocando... Te imagino humano.
Agora sucumbem todos os resquícios da tempestade de outrora. Um novo céu está surgindo, e o Sol aparece por detrás das montanhas. Não pense que estou querendo fazer metáforas. Estou falando da paisagem dos Alpes Suíços, que estão ali, do outro lado da janela do meu quarto.
Você ainda vai ouvir falar de mim, e quando esse dia chegar, provavelmente ouvirá alguns estampidos secos logo em seguida. Guardeessas palavras e não esqueça meu rosto. Bye Bye.
5 comentários:
Caraca
16 de abril de 2009 às 19:55me surpreendi
no começo achei que fosse um homem e uma mulher rsrs
ótiimo o texto.
=*
cara, acho que eu intimidei o povo com um texto tão grande
17 de abril de 2009 às 12:45oO
ta, faço mais isso não =x
podem voltar a postar, amiguinhos *-*
Não sei, mas acho que já li esse texto seu em algum lugar, Danne
17 de abril de 2009 às 21:05Não é um homem e uma mulher?
*pensa*
Beeijo ;*
papito...
18 de abril de 2009 às 17:37textos longos ou não, quando escritos por vc, sempre me despertarão curiosidade! o meu notebook é que não tem colaborado, mas vim pra outro pc, só pra ter esse gostinho!
=***
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