Resolvi chamá-la para sair, era a melhor opção dentre as quais eu havia pensado.
- É, vou ligar! [...] Onde está o número?
Eu não conseguia lembrar onde havia colocado o número. Talvez, dentro do bolso da calça que havia usado ontem para sair a noite. Resolvi procurar. Me dei conta de que havia colocado a calça para lavar. Uma onda de desespero tomou conta de mim, eu precisava pegar aquela calça.
- Ah, ela ainda deve estar na roupa suja.
Fui que nem um louco atrás da cesta para buscar o maldito papel dentro do bolso. Finalmente, a calça estava lá. Suspirei aliviadamente ao pegá-la. O papel estava incrivelmente dobrado, talvez pelo medo de perdê-lo, o que eu havia feito agora pouco. Desdobrei-o apressadamente, mais uma surpresa estava a minha espera.
Puta merda, caiu catchup em cima!
Eu não conseguia acreditar que aquilo havia acontecido comigo. Peguei os óculos para tentar decifrar os números no pequeno pedaço de papel improvisado. Apertei os olhos para melhorar a vista (eu realmente acredito que melhore). Nove, oito, meia, cinco, três, dois... Quê?
Os dois últimos números pareciam indecifráveis a olho nu. Resolvi botar contra luz para ver se conseguia ver através. Depois de uns minutos observando percebi algo.
- QUATRO! Ah, eu sabia que essa tática funcionava! Agora só falta um... Dois? Não. Nove? Não, não... OITO! É, oito!
Eu não conseguia acreditar que eu havia desvendado o número. Corri para o telefone, disquei o número, errando algumas vezes por causa do nervosismo. Finalmente estava chamando.
- Porque toda mulher demora a atender?
Eu estava com raiva, mas só tinha escutado o um “tuuu” até o momento. Ela atendeu.
- Alô?
E eu, para melhorar, gaguejei.
- A-a-alô?
- Quem é?!
Ela parecia irritada com a minha gagueira, isso era constrangedor.
- Sou eu, o André, lembra de mim?
Essa foi a pergunta mais idiota que eu poderia ter feito. Ela riu.
- Sei sim. Tudo bom?
Me senti um idiota nesse momento, fato.
- Tudo sim, só liguei para saber se você gostaria de sair comigo esta noite.
- Ah, claro! Aonde vamos?
Eu não havia pensando em absolutamente nada! E nessas horas a cabeça parece dar um branco. Falei a primeira coisa que veio em minha cabeça.
- Cinema?
- Certo! Passa aqui às 20h.
Ela desligou. Deve ter ido se arrumar, mulher demora horas com isso. Me arrumei calmamente, ainda faltavam 3 horas para a sessão. Fui para a casa dela. Claro, me atrasei. Alguém resolveu bater o carro na avenida exatamente na hora que eu estava saindo. Cheguei apressado, ela estava me esperando no portão, linda como sempre com um vestido vermelho, bem justo em seu corpo. Como eu havia me atrasado, perdemos a sessão do filme. Levei-a para a praça em frente. Sentamos em um banco em baixo de uma árvore.
- Você está linda.
Ela sorriu sem jeito. Logo após, uma risada mais calorosa. Eu não entendia do que se tratava. Ela apontou envergonhada para o meu cabelo.
- Tem uma lagarta no seu cabelo.
Eu dei um salto do banco, balancei a cabeça loucamente até ter certeza de que ela não estava mais em mim. Ela riu sem parar. Eu não conseguia entender como eu conseguia ter tanto azar, não era possível. Sentei novamente, agora um pouco mais perto dela. Ela estava me olhando com um sorriso sincero estampado no rosto.
- Me desculpe, eu não planejava isso tudo.
- Não se preocupe, o que importa é que estamos aqui.
Aquelas palavras eram inacreditáveis, eu não sabia que ela estava sentindo o mesmo que eu sentia. Eu tinha que tomar uma iniciativa, era o momento certo. Cheguei perto dela, nossos rostos se aproximando cada vez mais. De repente, cai uma maçã em minha cabeça. Me assustei, claro. Recuei e ela sorriu novamente. Eu estava prestes a sair correndo de tanta raiva, mas ela estava lá na minha frente, eu não podia ir. Respirei fundo e sorri sem jeito. Ela me olhou feliz.
- Você fica uma graça com raiva.
Ela foi se aproximando de mim, passando a mão em meus cabelos. Eu não consegui dizer uma palavra. Quando percebi, estávamos nos beijando. Só podia ser um sonho. É, só podia ser um sonho. Comecei a ouvir uma sirene tocando longe e aumentando cada vez mais.
- De onde está vindo esta sirene?
Acordei. O meu despertador estava tocando loucamente em cima da mesa. É, realmente, só podia ser um sonho.
- Acho melhor ligar para ela.